Morreu na manhã desta terça-feira, no Rio de Janeiro, o ativista do
movimento negro Abdias do Nascimento, 97. Ex-deputado, secretário
estadual e senador, Abdias foi também pintor autodidata, escritor,
poeta e ator.
Ele estava internado desde abril. Ainda não há informação sobre a causa
da morte e do horário do enterro.
(Fernando Rabelo-3.jun.10/Folhapress)
O defensor das causas negras e ex-senador Abdias do Nascimento, faleceu
nesta terça-feira, aos 97 anos.
Sua defesa dos direitos humanos dos afrodescendentes lhe rendeu uma
indicação ao Prêmio Nobel da Paz em 2010.
Em março deste ano, esteve entre as lideranças negras convidadas para o
encontro com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, no Rio de
Janeiro.
Na ocasião, Nascimento afirmou que "a visita do Obama é importantíssima
para aprofundar as relações entre o Brasil e os EUA. O fato deles terem
eleito um presidente negro é uma lição para o Brasil".
Foi dele a sugestão de instituir, em São Paulo, o Dia da Consciência
Negra, comemorado em 20 de novembro desde 2006.
POLÍTICA
Abdias do Nascimento foi o primeiro deputado federal negro do país, de
acordo com o PDT, sigla que o ativista representou no Congresso. Ele
assumiu o cargo em 1983, eleito pelo Rio de Janeiro. Em seu mandato de
quatro anos, segundo dados da Ipeafro (Instituto de Pesquisas e Estudos
Afro-Brasileiros), foi de autoria de Nascimento o primeiro projeto de
lei de políticas afirmativas da história do Brasil.
O ativista também foi suplente de Darcy Ribeiro no Senado e assumiu a
cadeira entre 1991 e 1992 e de 1997 a 1999.
Abdias nasceu em 14 de março de 1914 na cidade de Franca, localizada no
interior de São Paulo, a 400 km da capital. Filho de uma doceira e de
um sapateiro, viveu a maior parte da vida no Rio de Janeiro, onde se
formou em economia.
Começou a militar na década de 30, quando ingressou na Frente Negra
Brasileira. Em uma viagem pela América do Sul com um grupo de poetas,
assistiu a um espetáculo onde um ator branco pintava o rosto para
interpretar um negro.
O episódio marcou Abdias e o levou a fundar o Teatro Experimental do
Negro, em 1994, após ter cumprido pena na penitenciária do Carandiruo,
preso pelo governo de Getúlio Vargas por resistir a agressões racistas.
O Teatro Experimental do Negro formou a primeira geração de atores e
atrizes afrodescendentes do Brasil, e também contribuiu para a criação
da literurgia dramática afro-brasileira.
Abdias se encontrava nos Estados Unidos quando o regime militar
promulgou o Ato Institucional nº 5 e, por causa de diversos inquéritos
policiais dos quais era alvo, foi impedido de retornar ao Brasil.
Seu exílio durou 12 anos.
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